Segundo um relatório da Moody’s divulgado hoje, as economias emergentes devem continuar sofrendo com os efeitos dos problemas macroeconômicos dos Estados Unidos, que estão restringindo seu acesso ao mercado e aumentando os custos de financiamento, caminhando em direção a uma leve recessão na segunda metade do ano. Basicamente, a conjunção de fatores entre a política monetária norte-americana, os colapsos de seu sistema bancário iniciados pelo SVB e as consequências do impasse em relação ao limite da dívida contribuem para um cenário de crédito frágil nos supracitados mercados.

Sobre o último ponto, destaque para o fato de que as negociações entre a Casa Branca e os Republicanos no Congresso devem ser retomadas para chegar a um acordo sobre o aumento do limite da dívida do governo, com o risco de um possível default não sendo descartado. Diante disso, exportadores de commodities no Oriente Médio, América Latina e África podem ser os mais afetados com o excesso de oferta e a recessão no horizonte.

O panorama econômico tem basicamente essa configuração inicial. E mesmo no caso de uma eventual recessão nos Estados Unidos se confirmar para a segunda metade do ano, é possível que não vejamos o Federal Reserve cortando as taxas de juros ainda em 2023, já que tem como objetivo conter o aumento histórico da inflação, que ainda se encontra acima da meta. Pelo menos, essa é a mensagem passada consistentemente pelo órgão, que ao mesmo tempo deixa claro o estado de incerteza sobre o qual os mercados estão caminhando.

Vale lembrar que há aproximadamente pouco mais de 2 semanas, os investidores apostavam na possibilidade de que as taxas de juros pudessem ser reduzidas para 4,2% até o final do ano, em comparação com a faixa atual de 5% a 5,25%, o que sugeria três ou quatro cortes. Agora, no entanto, com os posicionamentos de Jerome Powell e companhia, essa expectativa diminuiu para um máximo provável de dois cortes, levando as taxas para 4,7%.

Fonte: Financial Times

Em suma, fica bastante evidente que o cenário é super complexo e confuso. Por um lado, desde o início dos colapsos bancários, os mercados financeiros têm esperado por uma crise de crédito resultando em recessão nos EUA, o que poderia levar o FED a reduzir as taxas de juros. Ao mesmo tempo, no entanto, os aumentos nos preços ao consumidor têm desacelerado (chegando a uma taxa anual de 4,9% em abril), fazendo com que parte dos investidores interpretem esse fator, aliado à crise dos bancos, como um sinal de que o FED pode começar a reduzir o ritmo agressivo de aumento das taxas de juros que tem sido executado nos últimos 14 meses.

Quando olhamos para o FedWatchTool, fica evidente a difícil leitura. As estimativas para a próxima reunião do FOMC em 14 de junho, hoje, são bastante parelhas, com 51.8% estimando uma manutenção dos atuais níveis das taxas de juros e os outros 48.2% estimando um leve aumento de 25 pontos-base.


Fonte: CME Watch Tool


Adicione a tudo isso os ingredientes de uma quinta-feira (25) agitada: tivemos a divulgação do PIB do 1º trimestre norte-americano, as pending home sales e os pedidos de auxílio-desemprego.

Mercado de trabalho: Weekly unemployment claims (pedidos de auxílio-desemprego)

O número de norte-americanos entrando com pedidos de auxílio-desemprego cresceu moderadamente (4.000) na última semana, totalizando 229.000 (ajustados sazonalmente) frente os ~245.000 que eram esperados, mas ainda permanecem perto das mínimas históricas e, portanto, consistentes com um mercado de trabalho ainda aquecido, indicando que a força do mercado de trabalho persiste. Em suma, o mercado de trabalho continua forte, com baixos níveis de pedidos de auxílio-desemprego, o que indica que as empresas estão mantendo seus funcionários e há uma demanda contínua por trabalhadores.

Pending Home Sales

Os contratos para compra de casas usadas nos EUA ficaram estáveis em abril, devido à escassez de imóveis disponíveis, o que pode atrasar a recuperação do mercado imobiliário. Por falar em escassez, a construção de novas casas está sendo afetada por escassez de materiais e condições de crédito mais restritas e, naturalmente, o mercado imobiliário também foi impactado pelo aperto da política monetária do Fed. A taxa média de hipotecas tem se mantido entre 6,09% e 6,73% este ano, enquanto as assinaturas de contratos caíram no Nordeste e aumentaram no Meio-Oeste, Oeste e Sul.


First-quarter GDP (PIB do 1º trimester)

Já o Produto Interno Bruto (GDP) aumentou a uma taxa anualizada de 1,3% no último trimestre, de acordo com a segunda estimativa divulgada pelo governo. Essa revisão para cima do número anterior (1,1%) indica que o crescimento foi um pouco melhor do que inicialmente relatado no mês passado. Quando olhamos para o quarto trimestre do ano passado, o PIB cresceu a uma taxa de 2,6%. O fato é que os economistas esperavam que o crescimento do PIB do primeiro trimestre não fosse revisado.

Em resumo, os dados mencionados mostram que o mercado de trabalho nos Estados Unidos continua forte, apesar de algumas preocupações sobre o crescimento econômico futuro. O índice de aumento nos pedidos de auxílio-desemprego sugere que a força do mercado de trabalho persiste, enquanto o crescimento do PIB no primeiro trimestre indica uma economia em crescimento, embora a um ritmo mais lento do que no trimestre anterior.


E a inflação no Brasil?

Já a inflação no Brasil continuou a desacelerar no início de maio, surpreendendo o mercado e aumentando a pressão sobre o Banco Central para reduzir as taxas de juros. O IPCA-15 atingiu 4,07% nos últimos 12 meses até meados de maio, desacelerando em relação ao mês anterior e atingindo seu menor nível desde outubro de 2020. A redução da inflação aumenta a possibilidade de cortes nas taxas de juros, mas o presidente do banco central tem defendido a manutenção das taxas altas devido às altas expectativas de inflação e preços ao consumidor. Em maio, os preços ao consumidor subiram 0,51%, abaixo das expectativas do mercado.